Hoje ao acordar às 5 da manhã, recebendo os débeis sinais de
claridade, esfreguei meus olhos, espreguicei-me na cama e, ouvi uma respiração
leve pertinho de mim.
Passei a mão pelo edredom ao meu redor e nada.
Puxei o travesseiro, ergui levemente a cabeça e quem ali
enroladinha estava nos pés da cama? A safadinha da Laika. Dormia tão
profundamente, que não abriu seus olhos castanhos como sempre faz para me fitar!
Mansamente fiquei em prontidão perto dela, para saber se
respirava adequadamente. Nesse instante, pousaram em mim dois olhos muito
lindos, e esse olhar foi tão afetuoso e amoroso, que jamais acreditei poderia
receber. Parece eles queriam dizer: bom dia, Rose! Veja, jamais estará sozinha
enquanto eu aqui estiver, vim aqui só pra te ver, porém estava você em sono tão
profundo, que não viu eu pular aqui, assim, permaneci quietinha.
Quem tal minha querida protetora e mãe que abrigou-me em
seus braços e casa, estaria sonhando? Pra que tirá-la de uma talvez fantasia, ou
uma esperança de realidade tão esperada por anos?
Meus pensamentos fluíam.
Fiquei por uns instantes olhando aquela criaturinha tão
mimosa, peludinha, meiga, que não ouve os clamores dos esquecidos e abandonados
como ela foi.
Nesse mundo onde a multidão de animais abandonados somam
milhões, entregues a homens que os maltratam, batem, queimam, atropelam.
Mais uma a criaturinha à minha frente, que amo de verdade
cada segundo da existência, continua a fitar-me com olhos tão doces mais
parecendo refletir mil venturas, e até há um leve esboço de sorrir pra mim!
Quer absurdo o leitor poderá dizer.
Mas para quem convive junto a jardim repleto de roseirais e
flores mil, sentindo o cheiro silvestre da passarinhada, das gramas dos
canteiros verdejantes, vendo um céu de azul suave num firmamento de auroras no
amanhecer e enluarados nas noites, só pode receber encantamentos.
Não tão longe, ouço o sorriso de uma criancinha que deseja
sair do berço, depois chora copiosamente.
Em tudo há poucos metros de onde estou, envoltas em
roupagens doces de plumas, algumas nuvens passam.
Nesse momento, milhões de criancinhas sem berço, sem teto,
sem roupa, sem lar, sem pátria, choram ou esboçam sorrisos para câmeras, como
num pedido de socorro!
Quiçá essa criança jamais chegue à adolescência, não terá
ilusões de amor, de amparo, mas a eterna agonia do desrespeitado!
Bendigo o enlevo da união de almas que mesmo sem uma
linguagem compreensível, sentem afetos, confiam, são felizes. Que um dia, jamais
vejamos um animal apedrejado, espancado, morto, uma criança rejeitada, não
amada, angustiada e ferida no âmago.
Que esse palco de cores, de luzes, de amores, de ódios,
receba em seu tablado novos atores, que possam vivenciar papéis de alegrias e
felicidades, nada de escárnio ou dor.
Que apenas sorrisos e beijos sufoquem o choro e as lágrimas,
que num soluço estejam esperanças, fé, crenças, verdades.
Que sejam banidos o orgulho brutal, a hipocrisia sempre
disfarçada, a falta de generosidade e amor e, vença a bondade, o carinho, o
respeito, a troca de abraços e beijos daqueles que se amam.
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